Maria Jocilene morreu 20 dias depois de ter alta (Fotos: TV Globo, Reprodução; TV Clube, Reprodução)
Maria dos Aflitos, avó das três crianças que morreram após comerem um arroz envenenado com chumbinho no Ano-Novo no Piauí, confessou ter matado a vizinha, Maria Jocilene da Silva, para culpá-la pelas mortes no caso do arroz e tirar a culpa do marido. A mulher, segundo a polícia, teria bebido um café envenenado pela suspeita. As informações são do Fantástico.
Maria dos Aflitos é mãe de Francisca Maria, que também morreu, e esposa de Francisco de Assis Pereira da Costa, padrasto das crianças e preso como principal suspeito do crime. Ela também foi presa na última sexta-feira (31), quando confessou o assassinato da vizinha.
A vizinha também foi internada no episódio do arroz envenenado, mas recebeu alta no dia seguinte. Entretanto, ela voltou ao hospital, em estado gravíssimo, 20 dias depois, quando morreu. Segundo a polícia, ela visitou a casa onde o crime aconteceu, passou mal e precisou ser levada ao hospital.
Maria dos Aflitos teria, de acordo com o delegado Abimal Silva, envenenado o café para que a morte de Maria Jocilene parecesse suicídio. Assim, ela levaria a culpa pelos outros crimes e seu marido seria solto.
— Eu fiz isso, mas eu me arrependo. Me arrependo amargamente — confessa Maria dos Aflitos.
Ela diz que não sabe quem comprou o veneno, mas que “deve ter sido ele, o Assis”, e que ele deve ter “esquecido atrás do fogão”
Motivação
Segundo o secretário de Segurança Pública do Piauí, Chico Lucas, a principal motivação para o crime contra a família seria a situação econômica, onde o casal queria “se livrar dos filhos” pela “situação de muita pobreza”.
Em depoimento dado no dia 5 de janeiro, Francisco disse que achava Francisca Maria da Silva “com mente boba, tola”. Na casa do homem, foram encontrados livros de nazismo. Ele foi preso dia 8 de janeiro.
— Todo material foi analisado, em um livro específico nós observamos alguns grifos. Teve uma frase sublinhada pelo Francisco de Assis que dizia o seguinte: os venenos devem ser sem gosto e sem cheiro — disse o delegado.
Quem são as vítimas
Francisca Maria da Silva, de 32 anos, que morreu na madrugada de terça (7), foi a quarta vítima do envenenamento. Também morreram dois filhos dela, de um ano e três anos, e o irmão dela, de 18. A filha dela, de quatro anos, morreu no dia 21 de janeiro e foi a quinta vítima do episódio. As demais pessoas já receberam alta.
Francisca tinha cinco filhos, sendo que quatro deles morreram por envenenamento. Além dos dois que faleceram após comer o baião de dois (arroz com feijão), outros dois morreram depois de comerem cajus envenenados em agosto de 2024.
Francisco de Assis Pereira da Costa e Maria dos Aflitos também são os principais suspeito desse crime, após a confirmação de que não havia chumbinho nos cajus ingeridos pelas crianças, que haviam sido oferecidos por Lucélia Maria Gonçalves, uma vizinha da família, até então principal suspeita do crime.
A casa de Lucélia, que ficou cinco meses presa, foi apedrejada e incendiada. No dia da prisão, foi encontrado o mesmo veneno na casa dela e, por isso, ela foi detida.
Eu durmo, mas pouco. Isso mexeu muito comigo — diz Lucélia, solta no mesmo dia da prisão de Francisco.
O que tinha no arroz
A substância encontrada foi o veneno “terbufós”, da classe dos organofosforados, utilizado como inseticida e nematicida (pragas de plantas). Ele ataca o sistema nervoso central e a comunicação entre músculos, causando tremores, crises convulsivas, falta de ar e cólicas.
Os efeitos aparecem pouco tempo depois da exposição ao veneno, podem deixar sequelas neurológicas e causar a morte.
O que dizem as defesas
A defesa de Francisco de Assis respondeu ao Fantástico que “em conversação com o seu advogado de defesa, o Sr. Francisco de Assis reitera sua inocência, desconhecendo a confissão da Sra. Maria dos Aflitos acerca de seu suposto envolvimento” e que deve “se manifestar no momento oportuno, após a conclusão do inquérito, tendo em vista que a Defesa Técnica ainda não teve acesso aos laudos dos exames periciais e ao depoimento na íntegra da Sra. Maria dos Aflitos”.
Já Maria dos Aflitos não tem advogado de defesa.
Veja fotos do caso do arroz envenenado