Antonio Cicero foi um dos principais letristas do pop rock brasileiro
Foto: Tasso Marcelo/Estadão / Estadão
O figurinista Marcelo Pies, o viúvo do poeta Antonio Cicero, que morreu na quarta-feira, 23, contou ao O Globo que os últimos dias do marido foram de paz e felicidade, do jeito que ele queria. Antes da partida por eutanásia, realizada em Zurique, na Suíça, Cicero e Pies, que tinham um relacionamento de 40 anos, fizeram uma programação por Paris.
"Fomos ao Beaubourg (o Centro Georges Pompidou) almoçar no restaurante Georges e ver uma exposição sobre o movimento surrealista. Jantamos no Atelier, do finado chef Rebuchon, que continua sensacional, e fomos pela milésima vez admirar a [igreja] Sainte Chapelle e também a Brasserie La Coupole [restaurante]", disse Pies ao jornal.
Além de poeta, Pies era compositor, filósofo e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). A aparição mais recente dele na sede da ABL aconteceu na última quinta-feira, 17. Na ocasião, ele leu um poema de Carlos Drummond de Andrade. Na sexta-feira, 18, foi quando ele embarcou para a Europa e fez a programação para se despedir de Paris.
Já a última aparição pública do poeta aconteceu no dia 30 de setembro, quando foi ao lançamento do novo livro de Silviano Santiago, no Rio de Janeiro.
Morte do poeta
A morte de Cicero ocorreu pouco mais de um ano após o diagnóstico de Alzheimer. Segundo Pies, o medo de que a doença piorasse e perdesse de repente a consciência foi o motivo da decisão pela eutanásia. Apenas ele sabia da escolha.
"Ninguém foi consultado. Antonio não queria. Ele só avisou ontem [terça-feira, 22] a irmã, Marina, que ficou arrasada, mas entendeu e aceitou sua posição", contou Pies.
Ele irá retornar ao Brasil na quinta-feira, 24, já com as cinzas de Cicero. Ele explicou que o processo foi bastante burocrático e exigiu vários exames e atestados para que o método fosse aceito.
"Ele sempre, sempre defendeu a liberdade de se cometer eutanásia e suicídio assistido. Nisso, ele foi de uma coerência admirável. Por isso, não reagi com tanta surpresa [à decisão]. Com toda a certeza, foi uma morte digna. Ele morreu em paz, segurando a minha mão, muito tranquilo e sem nenhuma ansiedade. Depois do medicamento, ele dormiu e, em meia hora ou um pouco mais, morreu", relembrou o figurinista.
Pies explicou que o futuro da doença é conhecido e ainda não há cura. Por isso, respeitou a decisão dele e o apoiou. "Admiro imensamente a coragem e a determinação. Ele sempre apoiou todas as formas de liberdade, e essa foi mais uma", disse.
Cicero deixou uma carta para amigos e familiares, onde diz que a situação pela qual estava passando era "insuportável". Ele descreve que já não reconhecia algumas pessoas que encontrava na rua, não conseguia mais escrever os poemas e ensaios de filosofia, nem conseguia se concentrar mais para ler, que era algo que mais gostava no mundo.
Fonte Terra
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