Líder religiosa conta que manicure se recusou a atendê-la. Caso aconteceu na sexta-feira (24) — Foto: Reprodução / Redes sociais
A Ialorixá Mãe Iara D’Oxum denuncia ter sido vítima de intolerância religiosa em um salão de beleza dentro de um shopping no bairro de São Cristovão, em Salvador. O caso aconteceu na sexta-feira (24). A líder religiosa divulgou um vídeo em que conta que uma funcionária do estabelecimento se recusou a atendê-la porque ela estava usando vestes características de religiões de matriz africanas.
No vídeo, compartilhado nas redes sociais, Mãe Iara traz detalhes do episódio. “Todo mundo me olhando como se eu tivesse roubado, matado. Foi horrível. Uma sensação de impotência”, relatou. [Veja o vídeo acima]
Em outro momento do vídeo, a líder religiosa contou que tinha ido ao salão fazer a unha, mas que a manicure teria dito “eu não faço a unha disso aí”, e em seguida teria chamado ela de macumbeira. “Ela vira e pega a unha de uma branca na minha cara”, acrescentou. A Ialorixá conta ainda que a segurança do shopping e Polícia Militar foram acionados.
A Polícia Civil informou que a ocorrência foi registrada como racismo na 12ª Delegacia Territorial (DT/Itapuã), e que a suspeita esteve na unidade policial neste sábado (25), acompanhada de um advogado, onde prestou depoimento e negou o ocorrido.
De acordo com a PC, a suspeita afirmou que está sendo perseguida e ofendida por outras pessoas, por conta da acusação.
A nota da Civil diz ainda que as partes serão ouvidas novamente na delegacia e testemunhas devem ser intimadas.
A Polícia Militar informou que policiais da 49ª CIPM foram acionados para averiguar informação sobre um desentendimento em um shopping. A nota da corporação informa que com a chegada dos PMs, a Ialorixá e a funcionária do salão apresentaram suas versões, acompanhadas por seus respectivos advogados, e informaram que realizariam o devido registro de ocorrência.
Na tarde deste sábado (25), um grupo de pessoas acompanhou a ialorixá em um protesto dentro do shopping contra o ato de intolerância religiosa. Os manifestantes aparecem nas imagens vestidos de branco e tocando atabaques.
Ialorixá reuniu grupo e realizou protesto na frente do salão. — Foto: Reprodução / Redes sociais
Sobre o protesto, o shopping informou, por meio de nota, que não compactua com nenhum tipo de preconceito e atuou para que ato religioso fosse respeitado e transcorresse de forma pacífica. Sobre o episódio da sexta-feira que motivou a manifestação, o estabelecimento afirmou que a o salão deveria ser procurado.
Salão nega intolerância religiosa
Em entrevista à TV Bahia, o advogado do salão de beleza, Marcelo Sotero, disse que não se trata de caso de intolerância religiosa. Ele contou que, de acordo com informações passadas pelo seu cliente, a ialorixá Mãe Iara D’Oxum já estava sendo atendida pelo salão onde fez o cabelo.
Em seguida, a Mãe Iara D'Oxum teria solicitado o serviço à manicure, mas teria saído para fumar. No retorno, uma outra cliente estava sendo atendida. Ainda de acordo com o advogado, a manicure disse que o salão estava cheio e por isso começou a atender outra cliente achando que Mãe Iara D'Oxum iria demorar.
O advogado disse ainda que quando a ialorixá voltou é que teria feito as acusações contra a manicure, alegando que ela estava se recusando a atendê-la por conta de intolerância religiosa.
Em nota, a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (SEPROMI) informou que acionou a rede de combate ao racismo e à intolerância religiosa do estado e se colocou à disposição para atender à ialorixá.
A SEPROMI disse ainda que a líder religiosa será atendida pela Coordenação Especializada de Repressão aos Crimes de Intolerância e Discriminação (COERCID) da Polícia Civil nesta seguda-feira (27).