quarta-feira, 13 de abril de 2022

Polícia mata a tiros homem e justifica: 'no boletim, será dado um jeito'



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O manobrista Luciano Vieira Ferreira, 27, saiu de casa para aproveitar finalmente uma folga aos domingos. Depois de sair de moto de uma atividade no Rodoanel, ele e outro amigo foram parados pela Rocam (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas) quando retornavam para casa, na zona sul da capital paulista. Enquanto o colega na garupa era abordado, Ferreira foi atingido com dois tiros pelo policial Eder Diego Worn. Em um vídeo gravado por pessoas no local, um policial é questionado sobre como justificariam a morte do rapaz e responde: "no boletim, será dado um jeito".
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Testemunhas ouvidas pela reportagem também disseram que Ferreira e o amigo pararam após serem chamados pela polícia. Durante a abordagem realizada na Rua Guavirituba, 890, em Santo Amaro - cerca de 5 km da residência de Ferreira - foi possível ouvir dois tiros. Moradores do local saíram às ruas e foram questionados pelo policial se sabiam de algum roubo na região. Os moradores negaram. O UOLcontatou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para obter mais informações, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem.

Imagens gravadas por uma câmera de segurança, e obtidas pelo UOL, mostram momentos antes da abordagem, quando os rapazes passam na moto pela estrada, na altura do distrito do Jardim Ângela, e, logo atrás, uma viatura da Rocam os persegue. Na frente de ambos, uma outra moto passava em alta velocidade.

Segundo o boletim de ocorrência registrado no DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) de São Paulo, Worn disse que estava próximo à Avenida Guido Caloi, na companhia de seu parceiro Jeorge Araújo Correia, quando um motorista informou que a poucos metros estava ocorrendo um roubo por homens em motocicleta.
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No exato momento, três motocicletas passaram pela dupla de agentes. Com isso, os policiais começaram a perseguição. Worn informou que ficou para trás e perdeu de vista as duas motos e seu parceiro, tendo em vista somente a motocicleta modelo Honda XRE-300, onde estavam Ferreira e seu colega. De acordo com o agente, o manobrista foi resistente à prisão e tinha porte ilegal de armas.

Além disso, justificou que o homicídio foi decorrente de oposição à intervenção policial, pois Ferreira levou a mão à cintura, como se fosse pegar uma arma. Por se sentir ameaçado, o policial deu dois disparos na direção do piloto, que caiu no local. Segundo os registros, ele não morreu no local, mas a caminho do hospital M'Boi Mirim, na zona sul. Foram registradas as apreensões de dois revólveres: um calibre .38, apontado como de Ferreira; e uma pistola Taurus calibre .40, utilizada pelo policial.

Ainda segundo os autos do boletim, Ferreira não tinha antecedentes criminais. Familiares não quiseram conceder entrevistas à reportagem por medo de retaliação, mas pessoas próximas negam que ele tivesse qualquer posse ou porte de armas.
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Repercussão

A morte de Luciano Ferreira aconteceu no dia 27 de março. O manobrista saiu de casa por volta das 7h com o amigo, Claudio Henrique Lima de Paula, 27, para participar de uma atividade realizada no Rodoanel, onde alguns motoqueiros praticam o "grau" (manobra de empinar a moto e deixá-la com apenas uma roda no chão).

Era a primeira vez que ele participava do encontro, sempre realizado aos domingos, dia em que trabalhava registrado como manobrista até às 15h e terminava o dia por volta das 22h fazendo entregas por meio de aplicativos de delivery. Luciano Vieira Ferreira era casado e tinha uma filha de dois anos.
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O caso ganhou repercussão nas redes sociais dias depois da publicação de vídeos com o corpo do rapaz estendido com marcas de sangue no chão. Em uma das filmagens, os moradores conversam sobre o caso e questionam os policiais sobre uma suposta arma, que ouviram os agentes dizerem que Ferreira portava.

"Cadê as armas dos caras? Falaram que trocaram tiros, mas se tivesse trocado era pra armas tá aí. Trocou tiro com os PM, mas só tô vendo o celular do cara, boné e camiseta", diz uma das pessoas que gravavam a cena.

Outros vídeos também circularam pelas redes sociais e tiveram milhares de visualizações, além de diversos comentários como: "a polícia só mata trabalhador", "todos os meus amigos morreram dessa forma, forjados" e "justiça".

Um dos moradores da região em que aconteceu a abordagem, que preferiu não se identificar, também contou à reportagem que enquanto registrava os policiais ao redor do corpo de Ferreira, um dos agentes de segurança também começou a gravar os moradores e tirar fotos das pessoas que acompanhavam a ação.

Em outro vídeo é possível escutar o comentário dos moradores: "Policial gostou da gente, ele ta filmando 'nois' e 'nois' ta filmando ele". Em seguida, uma policial chama a atenção dos moradores que estão filmando e o vídeo é finalizado com comentários de "moio, moio, corre, corre!".

Fonte: UOL


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