O pequeno Samuel Soares, de 7 anos, surpreendeu a família quando disse que queria vender "geladinhos" na cidade de Caetité, no sudoeste da Bahia. A ideia do garoto foi aceita pelos pais quando ele revelou o motivo: gastar o dinheiro das vendas com cestas básicas para famílias carentes.
“Eu vi muitas pessoas precisando de comida, precisando comer e eu fui lá e pedi para minha mãe fazer o geladinho e vender para poder doar”, disse o garoto Samuel Soares.
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A ideia de Samuel foi bem aceita pelos pais do garoto, o casal de fotógrafos Amilton Miranda e Simone Soares. O pai do menino confessou que se sentiu surpreso inicialmente.
“Eu fiquei surpreso, porque eu não entendi. Eu fiquei perguntando a ele onde teve essa ideia, onde ele viu isso. ‘Não pai, eu só queria ajudar’. E eu achei interessante porque a gente aqui em casa nunca tinha feito uma ação dessa”, contou Amilton Miranda.
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Segundo Simone Soares, o menino primeiro não contou qual era o motivo da inusitada venda dos geladinhos. Os pais, preocupados, disseram que ele não tinha idade para vender o lanche, mas Samuel não desistiu.
“Ele pediu, falou comigo e meu esposo, que queria vender geladinhos. Aí, no primeiro momento, a gente explicou para ele que ele é muito novo, que ele não ia saber vender geladinho, fazer troco, só que ele continuou insistindo”, disse Simone Soares.
Se a ideia não foi aceita pelos pais, Samuel apelou e foi contar para a avó, Maria do Carmo Soares. Como ele já esperava, surgiu o primeiro apoio e ele ganhou o isopor para colocar os geladinhos.
"Ele comentou com a minha mãe e ela comprou o isopor. Ele continuou insistindo e eu falei: ‘Eu faço o geladinho, mas só se você me falar qual a finalidade do dinheiro’. Aí ele me falou: ‘Não mãe, eu quero ajudar as pessoas que não tem o que comer’. Aí não tem como dizer não, né?”, contou a mãe do garoto, que ao saber qual era a intenção do filho, aceitou o pedido.
A ideia de Samuel surgiu no final de fevereiro e a família passou dois meses vendendo "geladinhos gourmet", uma espécie de sorvetes de frutas ou chocolates, batidos com leite, armazenados em sacos plásticos. Sucesso em Caetité.
Ao G1, a fotógrafa contou que a ideia inicial era divulgar a venda dos geladinhos apenas nos grupos de aplicativo de mensagem da família. O "negócio" do Samuel cresceu mais um pouco e ganhou até um ponto fixo, a barraquinha da avó, na feira orgânica, que funciona na cidade, toda quinta-feira.
“Eu fiz os geladinhos, só coloquei no grupo da família porque meus pais moram na zona rural, falando da iniciativa dele, quem quisesse colaborar, para quem seria e aí levamos pra roça, vendemos o geladinho e o pessoal colaborou”.
“Minha mãe vende produtos orgânicos na feirinha que tem toda quinta-feira na cidade e ela falou: ‘Leva para barraquinha para a gente vender’. A gente contava a história para o pessoal e eles se sensibilizavam”, contou.
Simone Soares também contou mais um esforço do filho para vender os geladinhos. Samuel chegou a pegar a bicicleta dele e tentou vender na rua onde mora, no bairro Santa Terezinha. "Ao lado da minha casa tem uma oficina e ele saiu falando que estava vendendo geladinho”.
Doações e 'bilhete'
Após vender os geladinhos, foi a vez do pai de Samuel colocar a mão na massa e ir comprar os alimentos. A estratégia da família era de fazer 10 cestas básicas, mas depois de comprar os alimentos, eles resolveram montar cinco, só que mais reforçada.
A escolha das famílias foi feita depois de uma conversa de Simone com a manicure. Ela revelou que não queria fazer doações para instituições, porque queria que as cestas básicas fossem entregues para pessoas que tivessem passando por vulnerabilidades e que não contam com ajuda.
“Ela [uma mulher que organiza um projeto de doações em Caetité] me passou o número e eu conversei. Falei que queria ajudar cinco famílias que precisavam mesmo. Muita gente precisa, mas tem aquelas que precisam mais, que são mais necessitadas”, disse a fotógrafa.
A mãe do menino ainda contou que último pedido do Samuel foi escrever bilhetes para as famílias que iam receber as cestas básicas.
“Ele falou: ‘Mãe, eu quero comprar um bilhetinho’. Tudo ideia dele. Aí eu falei que ele tinha que escrever cinco bilhetinhos iguais para colocar nas cestas”.
No bilhete, Samuel escreveu: "Oi, eu sou Samuel, tenho 7 anos. Deus abençoe sua vida" e desenhou um coração ao lado da frase.
As doações foram feitas para cinco famílias do bairro Escola Agrícola, no dia 20 de abril. O resultado: muita emoção. Samuel não entendeu de primeira, mas os pais dele explicaram que as lágrimas eram de felicidade.
“O pessoal já saía da casa chorando. O Samuel até questionou: ‘Por que que elas estão chorando, mamãe? Elas não ficaram felizes?’ Aí nós explicamos: ‘Não filho, claro que elas ficaram felizes. Elas estavam chorando de alegria’. Aí ele entendeu”, disse a mãe do garoto.
“Ele sempre teve esse negócio de compartilhar. Às vezes vai no mercado, se compra uma coisa para ele, aí ele fala: ‘Mãe, tem que comprar para o meu primo’. Já me pediu para comprar ração para os animais na rua”, conta Simone.
Apesar de Amilton ter contado que a família nunca tinha feito ações de doações desse tipo, a mãe de Simone lembrou que o filho "solta umas pérolas" às vezes.
“Samuel, apesar de ser criança, tem ideias bem maduras. Samuel é cheio de pérolas. No último natal, o pessoal estava recolhendo brinquedos para poder doar e eu expliquei para ele, ele separou os brinquedos e doou”, relembrou.
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