O texto abaixo é o último escrito pelo jornalista Everildo Pedreira. Foi enviado à sua filha Carollini Assis para revisão alguns dias antes de seu falecimento. A Tribuna da Chapada publica na íntegra o texto e o Blog Deixa Comigo Macajuba republica.
Foi numa quinta-feira de Endoenças, ou como é mais conhecida, Quinta-feira Santa, que você nos deixou, Fernão Dias Sampaio. A data sagrada antecede a celebração da morte e ressurreição de Jesus. É também neste dia que se comemora o lava-pés e a Última Ceia com os apóstolos, segundo o relato dos evangelhos canônicos. Foi nessa quinta-feira, há exatos quatro anos, na avenida mais movimentada da cidade, bem próximo à Igreja Matriz de Santa Luzia, que você partia deste mundo de intrigas e ganâncias para outro astral.
A data santa já é um convite à reflexão sobre vida e morte, sobre o tempo e sua impermanência. Mas para Macajuba e seu povo também é um momento de introspecção por uma catástrofe, promovida por um desafeto, um intempestivo jovem político. A sacada da Igreja que a sua prendada mãe construiu na década de 50 lhe serviu de proteção, para que já sem vida, seu carro ali parasse. Após ser baleado, o veículo oficial desceu desgovernado e foi encostar justamente na entrada de acesso à Igreja e em frente à lateral da Prefeitura. Perdíamos um grande político.
Falar de Fernão é sempre um desafio, pois é traçar o perfil de um administrador austero, que lhe rendeu a admiração de todos, até mesmo dos seus ferrenhos adversários. Mesmo os seus oponentes viam no seu perfil a coragem e determinação na execução das inúmeras obras. Você foi amado, elogiado, criticado. Estava no exercício do quarto mandato de Prefeito, uma façanha inédita no município, e uma consagração na maior vitória de um postulante ao cargo já ocorrida na cidade: 1.234 votos. Não foi para um adversário político qualquer, foi para o seu primo e criador político, apesar do seu pedigree, seu pai na década de 50 foi a maior liderança do município e da região formando um pool de coronéis responsáveis por tudo. Você alijou da política o Sr. Luiz Pamponet Sampaio.
Seu governo transcorria normalmente, muita coisa para ser feita, mas numa “Quinta-feira Maior” sua trajetória política e de vida foi interrompida abruptamente com seis projeteis 38, todos à queima-roupa e na região do tórax. Fernão foi conduzido praticamente sem vida para o Hospital Municipal Julieta Dias Sampaio, cujo nome era uma homenagem à sua progenitora. O hospital é uma unidade de saúde por ele mesmo construída e inaugurada. Na saída do seu corpo para o Instituto Médico Legal, uma voz do povo assim se expressou: “Não mataram Fernão, mataram Macajuba”.
A notícia da morte do prefeito macajubense se alastrou não só na Bahia como no país. A população perplexa não acreditava na veracidade da informação. Jornais e sites da capital e do interior questionavam o assassinato do homem que simbolizava o amor por sua terra através de suas realizações e lhe trazendo o progresso. O comentário nas rodas de conversa era um só: “O que será de Macajuba de agora em diante?”.
Na realidade, segundo suas próprias declarações na última entrevista que me concedeu, ele disse que estava recuperando o município que encontrou degradado e já tinha iniciado o seu projeto de construir obras essenciais na cidade, como a recuperação e ampliação da escola Stellina Costa (sede), do Centro Comunitário, início da recuperação do Centro Abastecimento (sede), da Creche Ana Araújo (Nova Cruz), da estrada ligando Macajuba-Jequitibá. Entre outros, a construção de casas populares em Malhada Nova, e a Praça Castro Cincurá (não chegou a começar).
Se foi um velho amigo. Brigão, crítico, mas leal a quem lealdade lhe dispensava. Seu vice-prefeito tentou prosseguir com o seu trabalho, o que não aconteceu. Por Macajuba, sua fiel companheira entrou na disputa do seu legado e levou consigo o seu primogênito Murilo Dias Sampaio, como vice-prefeito. E à frente da cidade estão enfrentando juntos o desafio de dar continuidade a um trabalho iniciado por Fernão e imprimir ao município o progresso pelo qual ele tanto lutara e desejara.
A luta tem sido árdua na manutenção de todas as obras deixadas nas gestões do grande líder. Sua terra não o esquece. Quem o conheceu de verdade e sabia de seu compromisso com o futuro da população macajubense, não o esquece. A prefeita Mary Dias e o vice Murilo Dias tem cumprido à risca com o compromisso assumido, num governo de austeridade e respeito ao cidadão. Fisicamente você não se encontra entre nós, mas espiritualmente se faz presente.
Abraços saudosos
Everildo Pedreira
Fonte: Jornal Tribuna da Chapada
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