Nos últimos 50 anos, assistimos a uma revolução na melhoria
do tratamento para o câncer de mama. Observamos uma melhor compreensão de seus
fatores de risco e o desenvolvimento de melhores recomendações para sua
prevenção. A mamografia se consolidou como ferramenta eficaz para o
rastreamento do diagnóstico mais precoce. A cirurgia e a radioterapia
tornaram-se menos agressivas e mais precisas. Além disso, os avanços no
conhecimento molecular sobre sua origem e progressão permitiram o surgimento de
novas estratégias terapêuticas para seu combate. Todo esse progresso
impulsionou a redução na sua mortalidade e morbidade ao aumentar as chances de
cura.
Entre 1960 e 1980, aprendemos que a presença de mutações
BRCA1 e BRCA2 estavam relacionadas ao aumento do risco de desenvolver o câncer
de mama nos familiares. A partir de então, tornou-se mais precisa a
recomendação para a mastectomia ou a ooforectomia profiláticas, as quais
reduzem o risco de câncer de mama em cerca de 90% e 50%, respectivamente. Além
da opção cirúrgica, dispusemos, em 1998, do medicamento tamoxifeno, o qual
reduz a incidência de câncer de mama em 50% naquelas mulheres com alto risco.
De outro modo, algumas pacientes com câncer de mama
apresentavam o retorno do câncer após a mastectomia, sugerindo a presença de
doença clinicamente oculta e das micrometástases, que necessitam ser combatidas
com terapia chamada "adjuvante". Nesse contexto, a partir do uso
padrão do esquema quimioterápico combinado de ciclofosfamida, metotrexato e
5-fluorouracil (1976), evoluímos com o esquema de quimioterapia baseado em
antraciclinas (2005) e da classe dos taxanos (2012). Além desses, a descoberta
do receptor do fator de crescimento epidérmico humano 2 (HER2) como alvo
molecular terapêutico e de seu agente terapêutico (trastuzumab) resultou em
importante aumento na sobrevida. Essa evolução terapêutica também pode ser
utilizada antes da cirurgia, como "neoadjuvancia", o que possibilita
tornar operável aquele tumor antes considerado não operável.
O aprendizado que o câncer de mama não é uma doença única,
mas um grupo de subtipos moleculares geneticamente distintos permitiu
avançarmos na era da personalização do tratamento baseado em marcadores
moleculares. Todo esse progresso é muito bem vindo, uma vez que permite individualizar
o tratamento, tornando-o mais preciso, mais eficaz, menos tóxico e com maior
potencial para cura. Ainda, mais importante, que todo esse conhecimento seja
disponível para toda a população.

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