Foto: Reprodução/Rede Record |
A equipe do programa do Gugu viajou 150 km até a Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo. A entrevista é a primeira que ela dá em dez anos
A produção passou por forte revista, assim como seus equipamentos. Suzane matou os pais, Manfred e Marizia, em outubro de 2002, com a ajuda do namorado, Daniel Cravinhos e o irmão dele, Cristian .
Primeiro, pediu que Suzane contasse o seu pior momento na cadeia. A presidiária não soube escolher.
"Acho que é difícil resumir só um momento. Não tenho como colocar em uma situação tudo o que já passei, mas foram maus momentos. Tive momentos difíceis em várias situações, a rebelião não foi fácil. O momento do juri foi um momento difícil. O momento a saudade, tristeza de estar presa" .
Atento, o jornalista reparou que, mesmo presa, ela continua se cuidando.
"Mesmo aqui, eu acho que a vaidade faz parte de mim. A mulher tem que se cuidar em qualque lugar. Sempre fui vaidosa. Aqui não dá para ter muita vaidade, mas dá para fazer as unhas, pintar, alguma maquiagem. Mas não tem muito recurso, umas fazem nas outras mas não tem muito recurso. Umas fazem nas outras"
"Nem lembro quando foi a última vez que coloquei uma calça jeans, não sei nem o numero que eu uso. Como tudo é de elástico, então a gente perde a noção. Eu acho que estou igual", contou em relação ao corpo .
Ela confessou que ainda tem sonhos.
"Acho que são mais sonhos do que planos, porque estou em regime fechado e tem todo um tramite para eu ir embora. mas tenho vontade de trabalhar, voltar a estudar, tenho sonhos sim, planos. Fazia faculdade de direito mas agora eu faria administração"
"Na cadeia, aprendi a costurar, então eu tenho vontade de colocar isso em prática lá fora"
"Se eu falar que não estou sofrendo, estou mentindo, não é fácil estar aqui. Mas quero ter a chance de recomeçar. A justiça me deu uma sentença e eu vou cumprir. Mas eu quero ter a chance de voltar a trabalhar"
A menina, que vivia cercada por itens de luxo, precisa se contentar com uma paródia da vida que um dia levou.
"Ganho salário de R$600 e pouco. O dinheiro não vem para a minha mão. Materiais de higiene, necessidades, algumas coisas de comer, chocolate. Vem uma folha com todos os itens, o dinheiro vai pra um fundo e eu posso comprar as coisas par me manter aqui. Que não tem pelo sistema"
"E nunca tinha trabalhado na minha vida e, na cadeia, aprendi a trabalhar. Eu nunca tive salário. E agora tenho responsabilidade com esse dinheiro. E com esse dinheiro tenho que me manter e guardar algo, porque eu não sei como vai ser o amanhã"
No ano passado, Suzane recusou a herança de R$10 milhões dos pais e acabou deixando-a para o irmão mais novo.
"Não existe mais briga na justiça por herança, é tudo dele. Não falo com ele. Até hoje não consegui nenhum contato"
"Não tenho ideia do valor disso. Esse dinheiro nunca foi meu, nunca tive direito. É dos meus pais e, agora, é do meu irmão. Não sei e não quero saber. Não sei de nada, nenhum conhecimento"
Suzane contou que sabe de pouco e que descobre as informações pela mídia.
"Aqui, pouca coisa chega até mim. Muita coisa do que eu sei, sei pela própria televisão"
Ela não vê o irmão desde 2006. O último encontro foi no último julgamento.
"Há um tempo ele entrou em contato por telefone, com o advogado na época, e manifestou interesse de vir aqui. Agora não sei até que ponto é isso ou não é. Em relação a ele, Deus sabe do meu coração o bem que desejo a ele"
No dia do crime, Suzane disse que contou tudo ao irmão.
"Eu pedi perdão para ele. Eu contei tudo para ele, tudo o que tinha acontecido e sabe o que ele me falou? "Su, eu perdi meu pai, minha mãe, meu melhor amigo — porque ele tinha o Daniel como melhor amigo. Eu não quero perder minha irma. Eu te perdoo, vou ficar com você"
"Ele era uma criança ainda, um adolescente. Não sei o que aconteceu com ele depois de tudo isso. Na época, ele me disse que não queria ficar longe de mim. Me visitava em São Paulo aos domingos. Ver o meu irmão entrando em uma cadeia não era fácil. Passar por revista, constrangimento. É um clima pesado, um lugar triste e de sofrimento. Eu não queria isso para ele. Ele fez isso por mim e foi muito tempo me visitar", disse emocionada Porém, as visitas pararam.
"Eu sei que o meu irmão sofreu para caramba. A única coisa que eu sei é que ele dá aula em uma universidade. Se aqui dentro eu sofri, imagina ele lá fora. Quando o nome é reconhecido. Eu sei que causei muito mal e queria que ele pudesse me perdoar e estar presente
""Eu quero uma reaproximação, reconciliação. É um sonho estar de novo com meu irmão. Ele faz falta, sinto saudades. Mas eu não sei como ele é hoje, nem fisicamente. Quando o vi era um adolescente, ele tinha 15 anos e hoje tem 27. Ele ja é um homem"
Gugu questionou o que aconteceu no dia que Suzane perdeu os pais
"Foi dia que marcou a minha vida de um jeito que nada mais vai ser igual. Eu perdi minha mãe, meu pai, amigos, irmão. Aquela vida que eu tinha, sonhos... Eu perdi tudo. Depois que eu fui presa, a minha realidade é completamente diferente"
O jornalista questionou como era a relação com a mãe, Marizia.
"Minha mãe era muito de sentar, conversar, ela era uma pessoa presente. Maravilhosa. Eu não tenho nada para falar dela, só coisas boas. Tanto que as minhas lembranças são doces. Tenho saudade da minha família, meu irmão, saudade de toda uma vida que eu tinha que hoje é completamente diferente"
Suzane disse que ainda sonha com ela.
"Sonho com minha mãe bastante. Mais com ela do que com o meu pai. Em lugares de campo, num sitio, no mato. Lugares tranquilos, ela sempre presente. Era como se ela estivesse me protegendo do meu lado, mas nunca falou"
A última lembrança que a detenta tem da mãe é dela indo para o consultório trabalhar. Marizia era psiquiatra
O relacionamento com Daniel começou quando ela tinha 15 anos. Suzane disse que foi a mãe que os apresentou.
"Foi no parque do Ibirapuera. Ele fazia aeromodelismo lá e meu irmão ganhou um de presente. Minha mãe o levou para aprender com o Daniel, que era instrutor. Um dos melhores. Ele se prontificou a ensinar o meu irmão e minha mãe o levava. E eu não queria ir. E minha mãe pedia para eu ir fazer companhia. "Ele tem um amigo que chama Daniel," ela dizia. E eu fui para fazer companhia ao meu irmão. E eu conheci o Daniel. Fomos nos aproximando e começamos a namorar. Tinha acabado de completar 15 anos"
Gugu perguntou se a tragédia começou no dia que ela conheceu Daniel. Suzane concordou
"Minha mãe não gostava dele. No começo, sim, como amigo, instrutor, mas não como meu namorado, não como alguém para fazer parte da minha vida. Quando o relacionamento começou a ficar sério, ela passou a conhecê-lo. Quem era o Daniel, a vida dele em si. E ela passou a não gostar mais. Começou a cortar o relacionamento e você e ele. Eu namorava escondido com ele"
"Paixão. O que eu vivi com ele foi muito intenso. O primeiro relacionamento que tive, primeiro homem. Era tipo Deus no céus e Daniel na terra. Não tinha olhos para outra pessoa. Eu era completamente apaixonada"
Com Daniel, Suzane dizia se sentir livre.
"Minha casa era toda certinha, hora de almoçar, jantar, dormir, todo mundo junto, só podia sair sexta e sabado. Tudo certinho. toda regrada e ele me apresentou uma vida completamente diferente, não tinha hora para chegar, sair. Uma vida do "tudo pode". Que vida boa, pode tudo.. qualquer coisa, livre, leve e solto. De repente conheci uma vida que era livre. Ao lado dele, me sentia livre"
"Mas era mentira. Eu não era livre. E hoje eu sei que tenho que ter responsabilidade de acordo com a liberdade. Não queria saber das consequências. Queria viver com a liberdade"
Suzane disse que sentiu confiança em Gugu Liberato para falar sobre o assunto.
"Nossa, Gugu, esse é um tema que até hoje não consigo falar direito. Tive que falar para a justiça e para imprensa nenhuma consegui falar sobre isso. Mas para você, que é uma pessoa de confiança, do bem. Eu vou contar. É um dia que eu nunca mais vou esquecer. Aquela Suzane de 12 anos atrás não existe mais. Aquele dia eu estraguei a vida do meu irmão, dos meus pais, da família de uma forma que não tem mais volta. Se pudesse, eu queria fazer diferente, mas não tenho como voltar, mudar tudo o que aconteceu"
Ela, que estava inconsolável no dia do enterro dos pais, contou o que sentiu no dia.
"Eu não conseguia pensar em nada, no depois. Eu acho que era inconsequente. Sabe quando você não acredita no que está acontecendo? Que parece que não é com você. Quando você vive uma coisa mas não está vivendo de verdade? Talvez um estado de choque. Ei, é minha vida, minha mãe meu pai sou eu que estou aqui. Um turbilhão dentro de mim"
Após ter admitido consumir drogas, Suzane disse que elas podem ter influenciado em seu comportamento. Porém, arrependida, disse que se não tivesse conhecido Daniel seria tudo diferente
"Pode ser sim. Consumia drogas, maconha, êxtase. Com certeza a droga tira você do seu equilibro, centro, eixo. Mas não posso falar que a culpa é toda deles, porque quando um não quer, dois não fazem. Eu me arrependo de conhecer eles, acho que minha história seria diferente. Eu tive culpa também e estou pagando por isso"
"Não foi de um dia para o outro. Eles e eu juntos, não é uma boa combinação. Não foi bom de forma alguma, tudo aquilo que aconteceu. Realmente, não foi na véspera que tudo foi resolvido", admitiu
"Muita gente me pergunta se a ideia foi sua. Todos dizem que eu sou a mentora, a cabeça de tudo? Não é verdade, Gugu. Uma cabeça só não pensa em tudo. É uma junção de tudo, concorrência de ideias. Eu fiz parte, mas os três bolaram aquilo. Eu acho que o Cristian sabia menos da situação, mas infelizmente tanto o Daniel quanto eu temos culpa nessa parte. Isso é uma coisa que não tem como esquecer, não fazer parte. Faz parte da minha vida, da minha história e eu me arrependo. Como eu tivesse que tudo tivesse sido diferente, que eu não tivesse conhecido ele, namorado. Que eu pulasse essa parte e chegasse aos 18 de outra forma", lamentou
Suzane contou o que falaria para os pais se estivessem vivos.
"Perdão. Vocês sempre tiveram razão, quando a minha mãe me dizia que ele ia me levar para o buraco, eu não acreditava. Você tinha razão, me perdoa eu achava que sabia tudo e eu não sabia nada. Ela sempre esteve certa. Iria pedir que me perdoassem abraça-los, eles fazem falta, é muito difícil viver sabendo que não tenho essa parte por minha própria culpa, não é culpa de ninguém, é minha culpa" "Às vezes nem eu acredito que tenho 31 anos. Eu fui presa tinha acabado de fazer 19.
Às vezes olho no espelho e nem acredito. Amadureci, aprendi muita coisa nesses anos, não é fácil estar presa e ainda mais quando não tem mais a família", disse.